"Invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e tu me glorificarás" Salmo 50:15
Deus não aceita a religiosidade. O seu culto tem que estar em harmonia com a sua vida e com a sua interação com Ele. É um grande perigo a autossuficiência na vida cristã, e a autonomia do crente, tendo, normalmente como consequência, o distanciamento de Deus. Neste sentido, o Salmo 50 é um recado de Deus muito importante para o seu povo.
O texto, na verdade trata-se de um acerto de contas com
aqueles que um dia foram chamados, e que, não somente fizeram aliança com Ele,
mas também derramaram o coração, se dispondo a servi-lo com as suas vidas.
O problema aqui não
era a falta de cultos, e de solenidades. Não faltava ali religiosidade. A
liturgia parecia estar sendo cumprida, atentamente e de forma regular. Não
estava faltando nada materialmente, e nem a adoração. Então, o que estava
faltando?
Como dito, Deus chegou até ao ponto de dizer que estava
farto dos sacrifícios do seu povo, e que não os queria mais.
Faltava algo que fosse genuinamente espiritual. Aquilo
que o povo estava fazendo não passava de ritos.
Da para entender que o relacionamento do povo com Deus
estava desgastado. Como dizemos hoje, perdeu-se o fervor, a simplicidade, e o
primeiro amor. Parece que não havia gratidão ou dependência daquele povo para
com Deus. O povo já achava natural que a nação tivesse aliança com o Deus
altíssimo.
Em nossa vida também se passa o mesmo.
Quando conhecemos a Cristo vivemos o nosso primeiro amor,
queremos fazer tudo, evangelizar, empregar os nossos talentos, e depois, tudo
vai ficamos normal.
Experimentamos lutas, e Deus nos dá o livramento, e isso
alimenta a nossa fé.
Mas, com o passar dos tempos, experimentamos a zona de
conforto, e nos amoldamos a ela. Nossos altares ficam empoeirados.
Parece que para ter condições materiais para oferecer sacrifícios
já era uma coisa normal. Deus abençoava aquele povo, e isso já parecia ser
obrigação de Deus.
Tudo isso caracteriza uma situação de autossuficiência e
autonomia espiritual, e Deus vai ficando de lado. Um dos momentos em que somos
frágeis é quando a vida “começa a melhorar”.
Neste contexto apresentado pelo salmista Asafe, Deus abre
uma porta para a oportunidade de uma nova experiência. “Invoca-me no dia da
angústia: eu te livrarei, e tu me glorificarás”.
Este apelo, certamente alcançará os corações sensíveis. É
uma espécie de alerta, coloque dizendo: “Olha, cuidado...não se iluda com as
boas circunstâncias em que você vive, mas, em todo caso eu continuo sedo o
mesmo Deus que você um dia conheceu”.
No entanto, parece que Deus também dialoga com um outro tipo
de povo, aqueles que repetem os seus preceitos, dizem ter até aliança com Deus,
mas as suas vidas não estão em conformidade com aquilo que eles confessam.
A estes Deus os chama de ímpios.
Estes já não escutam mais a sua palavra, rejeitam a
disciplina, acham que tudo deve ser feito através das suas forças, e tudo
começa aí. Ainda diz o texto que se associam com as pessoas não tementes a Deus
(para ter proveito aqui na Terra), e ainda traem os irmãos.
Diz o salmo que até a realidade que eles tinham de Deus
havia sido alterada, considerando que Deus não iria pôr em conta tudo aquilo. Para
eles já era tudo normal, como se Deus agisse como nós, e as suas consciências
estavam cauterizadas.
Mas Deus ainda os adverte, de modo que se arrependam. Um
ultimato é dado antes de uma disciplina severa.
Uma porta da oportunidade ao arrependimento é dada, para que
eles mudem suas atitudes, e retornem a sensatez.
Da mesma maneira Deus faz até hoje, para conosco, estendendo
sempre a sua mão, mas também, se necessário, convocando o nosso retorno à inteireza
de coração e ao centro de sua vontade sob sua repreensão.