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MAS, E SE TIVER QUE SER EU ?

 "...Contudo, seja feita a tua vontade, e não a minha" Lucas 22:42

Marco Antônio de Morais Alcantara

Sou de um tempo em que aspirávamos e tínhamos expectativas de que Deus poderia nos chamar para a sua obra. Isto nos trazia não somente expectativas, mas ansiedade, principalmente com base nos desafios e da nossa capacitação. Mas a Bíblia é cheia de exemplos de chamados, e onde se denota que eles são imperativos, e que diante de possíveis declinações da parte, do homem, Deus não os repassou para outros, embora se diga que, nas relações humanas, ninguém é insubstituível. As contingências também, aparentemente, se mostram contraditórias ao contexto do chamado. Passaremos a alguns exemplos de alguns servos do Senhor que atenderam a diversos chamados, sem o quais nós não estaríamos aqui, no caminho da fé.

Noé foi chamado para construir uma arca, a qual pudesse abrigar a sua família, e um casal representante de cada espécie animal, durante o período em que atuasse o dilúvio que Deus anunciara.

Imagine o papel de Noé, de ser um pregador de fatos que o mundo contemporâneo de sua época ainda não conhecia. É como nos dias de hoje, em que o mundo secularizado menospreza a segunda vinda de Cristo, alegando que sempre existiram céus e Terra, assim como, procuram viver a vida alheios à vida de Deus. No entanto, não haveria, segundo os critérios de Deus, outro que pudesse o papel de Noé dentro da história da salvação.

Abraão foi chamado por Deus, quando este ainda se chamava Abrão; para deixar a terra de sua parentela, e ir para um lugar que Deus lhe mostraria.

Imagine então você, quando está estabilizado em um local, depois de anos de luta para nele se estabelecer, de repente, receber um chamado para deixar aquele lugar, lugar já bem definido em termos de relações interpessoais, comerciais, com a delimitação de possíveis zonas de conflito ao longo dos anos, e ainda, como diz o texto bíblico, lugar onde estava a sua parentela, e então, partir rumo ao desconhecido para ele.

Para o propósito que Deus tinha para a vida de Abraão, importava mesmo esse tipo de rompimento, porque Deus faria dele uma nova nação, a qual se distinguiria das demais ali presentes em sua volta.

Mas Abraão já era velho, e Sara, sua mulher, era estéril, e ainda, também em idade avançada.

Humanamente o projeto era impossível de ser concretizado. Outros casais estariam aptos para este propósito. Mas para Deus, ao qual nada lhe é impossível, não havia outro desígnio senão este. Aliás, mesmo que Sara repassou o encargo da maternidade para Hagar, sua serva, isto não passou pelo crivo de aprovação de Deus. A tarefa que era para Sara não pode ser repassada para Hagar, tendo este propósito se concretizado mais tarde, no tempo de Deus, quando esta concebeu, e deu à luz à Isaque.

O contexto das vidas de Abraão e Sara não foram justificativas para que Deus mudasse os seus propósitos com relação às suas vidas.

Dentro de um estado de conflito familiar, José, filho de Jacó, e neto de Abraão foi vendido como escravo para o Egito. Este foi alvo de uma falsa denúncia, pela qual ele foi preso. Contudo, a sua integridade e o seu temor à Deus o acompanharam, assim como a presença de Deus em sua vida. Dentro do momento reservado por Deus, ele saiu do cárcere, para usar da palavra de sabedoria para com Faraó, e foi feito, então, o vice-governador do Egito.

Através de José, e de sua sabedoria, ciência e competência dadas por Deus, o mundo foi salvo da fome e escassez que viria, assim como, a sua família, com os outros filhos e Jacó, se instalaram no Egito.

Dos descendentes de Jacó no Egito, se formou uma nação, como Deus prometera à Abraão.

Com as mudanças no contexto político no Egito, surgiu um Faraó que se tornou hostil ao povo de Abraão. Este povo foi subjugado e escravizado. Clamaram então à Deus. Nota-se que já se invocava a Deus, como Deus único.

Deus enviou Moisés para libertar o povo.

Moisés já havia sido poupado da matança dos meninos de sua época, matança esta feita por um decreto e Faraó. Tudo se deu por um plano astucioso de sua mãe, e este foi adotado como o filho da filha de Faraó.

Não obstante os privilégios, este se manifestou incompatível com a sua situação frente ao seu povo, e por este motivo ele teve que deixar o Egito, fugir da presença de Faraó.

Dentro destas contingências, Deus o chamou para libertar o povo de Israel.

Além de suas contingências pessoais, Moisés era de difícil comunicação, razão que ele o liberou do encargo, lhe designou que este tomasse a Arão como o seu assessor na comunicação verbal.

Curiosamente, as atitudes precipitadas de Moisés, no passado, não impediram que Deus o chamasse para a sua obra.

O povo saiu do Egito, peregrinaram no deserto, murmuraram contra Deus e contra Moisés e Arão. Deus julgou tanto os revoltosos, como Moisés e Arão, de modo que muitos pereceram no caminho.

Para entrar na terra prometida, Deus usou de Josué e Calebe como líderes do povo.

Contudo, o povo pecou, repetidas vezes, e a cada vez que isso acontecia o povo era subjugado, por povos vizinhos. Deus então mandava libertadores. Gideão foi chamado para libertar o povo dos midianitas, mas ele era de uma família pouco expressiva em Israel. Talvez os filhos dos ricos de Israel estivessem envolvidos com rolês, pelas ruas de israel.

O anjo do Senhor chamou a Gideão como “homem valente”, distinguindo-o por seus atributos, que possivelmente o próprio Gideão desconhecia.  

Gideão assumiu o encargo que lhe foi proposto, bem como, começou o seu trabalho derrubando o ídolo de Baal que havia em sua casa.

 Sansão, também, não obstante os seus momentos de instabilidade espiritual, teve a chance de, em um momento único, vencer os filisteus.

Davi, ainda jovem e pequeno, foi quem se propôs a enfrentar o gigante Golias, o qual afrontava o exército de Israel e sobretudo, o Deus de Israel. Conforme Golias, em Israel não havia homem para que o enfrentasse de frente mas o exército dos filisteus teve a vergonha de ver o seu guerreiro maior derrotado por um adolescente.

Em Israel e diante de suas inconstâncias, podemos também distinguir o exemplo dos profetas, os quais enfrentaram reis, com os seus falsos profetas, e a rede de fake-news. Um exemplo destes é o caso de Elias.

A sobrevivência de Elias foi um milagre de Deus, no reinado de Acabe e de sua esposa Jezabel, a qual tinha sob o governo a quantidade e 400 profetas de Baal, sustentados pelo palácio. Elias era minoria, solitário, o qual desafiou os profetas de Baal e Israel para uma disputa no monte Carmelo, onde, o Deus que respondesse por fogo sobre o sacrifício seria então reconhecido como o Deus em Israel.

Muitos dos profetas de Baal hoje se mostram colocando Deus à prova, diante de questões para as quais nunca haverão respostas.

Elias foi o vencedor diante dos profetas de Baal. A ordem e a adoração em Israel foram restabelecidas.

Um caso curioso é o profeta Jonas. Este foi chamado para pregar em Nínive, terra de gentios, não misericordiosos, e este preferiu resistir à voz de Deus. Jonas comprou passagem em um navio para uma outra direção, para Tarsis. Esta viagem não foi bem-sucedida e, diante de uma tempestade, ele foi reconhecido como um desertor do Deus de Israel, fato que atemorizou a todos os tripulantes do navio. Em um acordo com a tripulação, Jonas foi jogado ao mar. A viagem de Jonas terminou no ventre de um peixe.

A pregação de Jonas foi realizada com êxito, e os ninivitas se arrependeram. Alcançaram então a misericórdia de Deus.

No Novo Testamento tem o exemplo de João Batista, o qual foi chamado desde o ventre materno para ser o precursor do Messias. Ele pregou o arrependimento, e diante dos maus religiosos da época, ele os reprendeu chamando-os de “raças de víboras”.  Enfrentar os poderes religiosos da época não é uma tarefa fácil.

Pedro, negou ao seu mestre diante de uma criada enquanto Jesus estava sendo levado para ser condenado pelos homens. Tudo estaria acabado para ele. No entanto, Jesus o restaurou, de modo que ele fosse um grande apóstolo, e pregou a multidões, e a homens investidos de autoridade. Inclusive, no fim de sua vida, ele se tornou também um mártir.

Paulo, o apóstolo dos gentios, com todos os requisitos de ser um bom judeu, um homem erudito na sua época, era perseguidor da Igreja, e, um dia, este se converteu, e se tornou um apóstolo, e missionário entre os gentios. Paulo foi usado por Deus, com os seus talentos, a prescrever a doutrina que fundamenta o evangelho.

Através desses exemplos, podemos notar que Deus escolhe os seus obreiros de acordo com a sua vontade. Muitas vezes, achamos que as escolhas de Deus são as mais estranhas aos nossos olhos, mas Deus é o melhor gestor de recursos humanos que existe. Ou as características já estão dentro de nós, ou Ele capacita.

Deus não revoga, mas mantém aberta a porta para a obediência.

Deus não nos chama pelos nossos méritos, capacidades, ou pelo investimento com base naquilo que daremos depois. Ele conhece a nossa instabilidade.

Noé, após o dilúvio, se embriagou na sua tenda, e causou constrangimentos.

Elias, após a vitória sobre os profetas de Baal no monte Carmelo, teve medo da rainha Jezabel, que o ameaçou, e se escondeu em uma caverna.   

Jonas, após a sua pregação, e o arrependimento dos ninivitas, não foi misericordioso, e fez torcida contra eles.

Em todos os casos de recaída, Deus restaura e redime. Ele trata os seus servos.

Como dito, Deus não se vale da nossa suficiência. A nossa suficiência vem Dele.

Agora, um último exemplo, a ser retratado aqui.

Há muito tempo, desde a eternidade, um problema havia de ser solucionado: o da redenção do homem. Isto implicava em que um sacrifício fosse realizado, para o pagamento dos pecados da humanidade, e da restauração do homem.  Alguém deveria pagar por este preço, e ser sacrificado. Não poderia ser o próprio homem, caído, e sim alguém que tivesse cumprido a lei de Deus, e encontrasse justiça que satisfizesse a Deus, e prefigurasse um cordeiro sem defeito. Somente Jesus, o filho de Deus, estava apto para cumprir com este sacrifício, para a remissão dos pecados da humanidade.

Jesus assumiu esse encargo, embora Ele não tivesse cometido nenhum pecado. Ele se submeteu à vontade do Pai, dizendo, na última hora: “Que seja feita a tua vontade, e não a minha”.

Com base nestes exemplos, e no exemplo máximo, que possamos estar encorajados para aquilo que Deus nos designar.    

     


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