"Tua, Senhor, é a grandeza, e o poder, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo o que há nos céus e na terra; teu, Senhor, é o reino, e Tu te exaltaste por chefe sobre todos. Riquezas e glória vem de ti, Tu dominas sobre tudo, na tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e atudo dar força. Agora, pois, ó nosso Deus, graças te damos e louvamos o teu glorioso nome". I Crônicas 29: 11-13
A nação
israelita surgiu de modo especial pela divina mão de Deus, para que, através
dela, viesse ao mundo o Salvador e Redentor da humanidade, dentro de um amplo
plano que se executou construindo a história da salvação.
Esta
nação deveria ser separada das demais nações, de modo a se constituir o povo de
Deus e de melhor cumprir para com a vocação que lhe foi atribuída, a de
proclamar a ética e a moral estabelecidas por Deus.
Ainda, esta
nação tinha um modelo político particular, um modelo teocrático,
onde Deus conduzia a nação através dos seus servos designados. Inclusive, esta nação era muito nacionalista.
A história
da salvação envolveu sempre Deus e os homens, contudo, em todas as áreas de
atuação que dependeu da participação humana, mas, Deus esteve e ainda está presente como soberano e
provedor, sendo a sua contra partida a que sustenta a todas as coisas.
Diante de
uma recente israelização da Igreja nos últimos tempos, eu gostaria de refletir
um pouco sobre o modelo político-social de Israel, em termos do que ele deveria
ter sido e do que foi, e diante de uma sacralização generalizada de tudo o que
evoca a Israel do antigo testamento.
Entre o
modelo e a realidade vivida pelo povo, teria sido o Israel bíblico um exemplo
de virtudes que poderiam ser imitadas? Neste sentido procuro fazer uma breve
revisão da história política de Israel desde o começo desta nação como um estado
moderno de sua época, com um reino estabelecido, até a queda e cativeiro com a
destituição dos reis e da espoliação e condução do povo para outras nações.
Os israelitas pedem
um rei
Em I Samuel capítulo 8 nós
encontramos a história de que os israelitas pediram a Samuel que este ungisse para
eles um rei sobre a nação. Samuel já era bastante idoso, e os seus filhos, que
eram juízes sobre Israel, não seguiam a lei de Deus. Havia corrupção no reino.
A sociedade civil estava
mobilizada. Os anciãos do povo foram até o profeta levando não só o anseio de
que o povo tivesse um rei, como os tinham as outras nações, mas que
representasse o povo, e fosse à frente nas batalhas.
Quando o profeta levou a queixa
diante de Deus, Deus lhe falou que não foi a ele (profeta) que o povo rejeitou,
mas a Ele próprio, Deus.
Deus havia instituído juízes para
governar o povo, em um modelo de teocracia.
Deus resolveu atender ao pedido
do povo. Contudo, alguns encargos foram impostos para a manutenção dos reis e
da côrte. Estes encargos envolviam a exploração do trabalho dos filhos e das filhas
dos israelitas em atendimento às demandas do palácio, como lavradores, artífices, padeiros,
construtores e até como arregimentados no serviço de defesa real. O povo,
estando cônscio destes compromissos, foram em frente com o pedido que assim faziam, reafirmando
em pedir um rei para a nação.
Nota-se por este pequeno relato
que o povo, em momentos específicos, tem anseios bem definidos, e inegociáveis.
Uma questão que se levanta desta
história é que:
Porque a nação israelita não apresentou
a Deus os problemas de corrupção, para que estes fossem resolvidos, e que para a questão preferiram pedir a mudança um modelo de governo, conforme o que lhes convinham? Deus não ouviria a
queixa deles?
Os primeiros reis que foram colocados sobre Israel
A história mostra que o primeiro
rei que foi ungido sobre Israel foi Saul. Esse foi indicado por Deus para
reinar sobre Israel (I Samuel 9), e então assumiu o seu encargo (I Samuel 10).
Saul começou bem a sua história. Como
exemplo de um homem espiritual, Saul chegou até a profetizar com os profetas de
Israel (I Samuel 10:9-25). Mas Saul foi posteriormente rejeitado por Deus, por
não ter tido um coração íntegro para com Ele, e por não lhe obedecer a sua palavra
(I Samuel 13: 8-23).
Saul teve então em uma carreira
decadente, mas insistindo em conservar os privilégios espirituais alcançados
anteriormente, não obstante que o Senhor lhe encerrara a palavra e as
revelações, e, procurando fazer à sua maneira, chegou até a provocar a sua ira
ao consultar uma necromante (I Samuel capítulo 28).
A história de Saul teve curta
duração, enquanto serviçal a Deus, não se constituindo dele uma dinastia.
Enquanto isso, o Senhor já estava providenciando um sucessor para com o reino de
Israel.
Observa-se já que o coração do
rei para com Deus era de suma importância.
Então, atendendo à ordem do Senhor, o profeta Samuel foi até à casa de Jessé, para ungir um dos seus filhos como rei de Israel; este,
evidentemente, não poderia se deixar levar pela beleza dos seus filhos, no sentido de
se inferir sobre uma vocação real; contudo daí surge a frase dita por Deus de que Ele não vê como vê o homem, pois o homem vê o exterior, mas Deus conhece o coração
(I Samuel 16:7).
Dentre os filhos de Jessé que lhe
foram apresentados nenhum foi escolhido, não obstante as suas aparências; mas
Davi, que estava fora, no campo, servindo ao seu pai, foi o designado por Deus
para ocupar o trono de Israel (I Samuel 16:12-13).
O rei Davi foi ungido para
exercer a função de rei de Israel, causando-lhe logo a oposição da ira de Saul.
Isto durou até que no tempo determinado ele recebeu a sua coroação (I Samuel
18-24). Davi demonstrou um exemplo de hombridade, respeitando a Saul, mesmo
sendo por ele perseguido, por ser Saul o ungido do Senhor (I Samuel 26 e 26).
O rei Davi exerceu um governo de
paz sobre Israel, assim como, ele foi temente para com Deus, recebendo deste a
menção de que agradou ao seu coração. Deus fez aliança com ele, e a ele
foi dada a promessa de que nunca faltaria um sucessor, descendente seu, para o
reino de Israel (II Samuel 7:1-17).
O reino de Davi foi de equilíbrio
com as outras nações, com boas relações exteriores, e de prosperidade.
Davi desejou construir o templo
do Senhor em Jerusalém, de forma a constituir um lugar na terra onde Ele
pudesse habitar, e fosse cultuado. No entanto, como Davi fora um homem de
guerras, o Senhor lhe aprovou o desejo mas disse que este privilégio seria dado
ao seu filho, sucessor no reino.
Salomão, então filho de Davi,
foi quem assumiu o trono após a sua morte, e conduziu a nação de Israel. Em consulta
feita a ele por Deus, sobre o que ele pediria a Deus, ele pediu sabedoria para
poder governar o povo (I Reis 3:3-15). Deus lhe deu então a sabedoria, além de
riquezas e honras (I Reis 10:14-29). Salomão edificou o e aparelhou o templo (I
Reis 6-8), abençoou o povo (I Reis 8), e Deus fez aliança com ele (I Reis 9). Contudo,
Salomão se deixou levar pelas idolatrias de suas mulheres estrangeiras, e se
distanciou de Deus (I Reis 11:1-8).
O reino de Israel foi engrandecido
durante o mandato de Salomão. Povos lhe pagavam tributos e pedágios (I Reis
4:20-28).
O cisma em Israel
Tendo morrido Salomão, Roboão, o
seu filho, assumiu em seu lugar.
Logo de sua posse, os anciãos, representantes
do povo, vieram lhe pedir para que este pudesse diminuir a carga tributária que lhes
era imposta, e se assim fosse, então, a nação o serviria.
Roboão consultou os sábios do
tempo de Salomão, seu pai, e estes lhe recomendaram que ele acatasse aos
pedidos do povo. Contudo, o rei teve também o capricho de ouvir os jovens
executivos de sua época, os quais lhe propuseram de endurecer ainda mais o
jogo, aumentando a carga tributária sobre a sociedade (I Reis 12:1-15).
Esta atitude gerou
descontentamento à nação e contribuiu para que houvesse um racha dentro do reino,
ficando Judá com a linhagem de Davi, e as demais tribos de Israel seguiram a Jeroboão
(I Reis 12:16-20).
Jeroboão era um opositor político
que já anteriormente houvera tido história em de Israel, quando Deus levantou
inimigos à Salomão em decorrência da sua idolatria; e Deus lhe anunciara por
parte de um profeta que daria aquela parte do reino para ele (I Reis 11:26-40).
O momento político e espiritual de Israel após o cisma
Após a separação política das
tribos de Israel Judá seguiu a Roboão, da linhagem de Davi, cuja
capital era em Jerusalém, enquanto que as demais tribos seguiram a Jeroboão,
filho de Nebate, cuja capital do reino se estabeleceu posteriormente em
Samaria.
Alguns detalhes podem ser
expostos acerca da vida política, religiosa e econômica destes dois reinos.
No reino de Judá pôde se notar mais
a influência da fidelidade dos governantes à Deus e as suas alianças, de modo a
se conservar a paz e o temor do Senhor no reino. De modo geral, as sucessões
foram por transferência do trono de pais para filhos, havendo um distúrbio
quando na transferência de Acazias para Joás, sendo logo corrigido.
Dentro desta sequência de tronos não se observa como regra o temor do Senhor da parte da maioria dos governantes. Alguns receberam destaque e a aprovação de ter feito o que era reto perante o Senhor, como Asa, Josias e Ezequias, tendo sido estes identificados com Davi, o qual foi tomado por Deus como referência de ter agradado ao coração do Senhor.
Dentro desta sequência de tronos não se observa como regra o temor do Senhor da parte da maioria dos governantes. Alguns receberam destaque e a aprovação de ter feito o que era reto perante o Senhor, como Asa, Josias e Ezequias, tendo sido estes identificados com Davi, o qual foi tomado por Deus como referência de ter agradado ao coração do Senhor.
Alguns reis foram de todo alheios
e prevaricadores da lei de Deus, fazendo Israel pecar com a idolatria, não
obstante a grande herança espiritual recebida pela nação.
No reino das 10 tribos se observa uma
sequência de reis idólatras, assim como sucessões marcadas por traições,
usurpações de trono e de golpes de estado.
Uma questão de destaque notada logo no
início é a atitude de Jeroboão. Não obstante que o Senhor havia lhe entregado
nas mãos o reino, ele não confiou no Senhor para a sua sustentação política (I
Reis 12:26-33). Teve medo de que o povo voltasse a se submeter a Roboão, caso
fossem adorar ao Senhor em Jerusalém. Preferiu construir bezerros de ouro na
sua região, e modificou o culto dizendo que aqueles deuses os haviam tirado da
terra do Egito, de modo que o povo não fosse mais à Jerusalém para adorar ao
Senhor. Jeroboão, filho de Nebate, ainda criou postes ídolos, e constituiu
sacerdotes que não eram da tribo de Levi. Passou a ser referido por Deus como
um ícone de prevaricação contra Ele, representando os reis que procederam mal
diante dos seus olhos.
A dinastia de Jeroboão foi
extinta por Deus, pela conspiração de Baasa sobre Nadabe, seu filho (I Reis 15:25-32).
Baasa fez o que era mau perante o Senhor, seguindo o exemplo de Jeroboão. Após Baasa Elá seu filho assumiu, porém este sofreu o atentado de Zinri, o seu comandante. Porém Zinri não foi aceito pelo povo, tendo o povo levantado a Onri como o rei. Mas não se
observou grande diferença quanto ao caráter dos reis, em especial no reinado de
seu filho, Acabe (I Reis 16:22). Durante o reinado de Acabe se relata com mais
detalhes o incentivo à idolatria, a apropriação indevida de terra de cidadãos,
a presença de profetas e de sacrificadores à deuses estranhos, protegidos pelo
palácio.
Os profetas do Senhor foram
perseguidos. A falsa mídia estava em evidência. Os profetas que agradavam ao rei eram aqueles que faziam falsas profecias, trazendo ilusão, mas que, no
final não se cumpriam. Foi nesta época que surgiu a figura de Elias, o
restaurador da fé em Israel.
Como não poderia ser diferente, a
casa de Acabe, e a sua dinastia, foi condenada por Deus. Jeú foi ungido para reinar
em Israel e exterminar a casa de Acabe, após a sucessão de seus descendentes
Jorão e Acazias ( II Reis 10:1-14).
Depois deste, novos soberanos
assumiram o trono de Israel (II Reis 11 -16), dentro de algumas sucessões,
execuções e conspirações.
Os reinos irmão muitas vezes se rivalizaram.
Os reinos também fizeram algumas vezes alianças com os reinos vizinhos, de modo
a se alcançar proteção contra outros inimigos maiores, que os ameaçavam.
Este tipo de associação se tornou
mais frequente quando nos casos dos reis que não temiam ao Senhor.
Muitas vezes os tesouros da casa
do Senhor foram espoliados para dar aos estrangeiros, para se recuperar a paz
em Israel.
Tanto os reinos de Judá como de Israel acabaram sendo cativos de povos estrangeiros por causa de suas obstinações e prevaricações (II Reis 16-25).
Antes que isso acontecesse, Deus
os preveniu através dos seus profetas, de modo que estes viessem ao
arrependimento e ao retorno à sua lei.
As lições que ficam
Antes disso gostaria de falar que eu creio que o Deus tem o domínio e o conhecimento sobre todas as coisas. Também que o estudo de caso apresentado é o semelhante que poderia ser com qualquer outra nação que fosse analisada. Também que o estudo envolve um período específico.
Lamentavelmente, se observa no
meio da história deste povo a presença de algumas mazelas, as quais podemos hoje identificar em outros governos atuais.
Diante de tudo, se observa que o
povo era penalizado por causas das obstinações e dos caprichos dos reis. Além de
tudo, a casa do Senhor era tratada à revelia. O culto do Senhor profanado, e o
nome do Senhor envergonhado perante as outras nações, requerendo então Deus o
zelo pelo seu nome. O povo pagava caro pelas alianças indevidas. Isto é o que pode ocorrer quando hoje a Igreja procura se associar às correntes políticas, e principalmente de modo a validar tudo sem critérios.
Desde que o homem pecou, Deus vem
trabalhando com ele. Deus trabalha com homens, os quais são imperfeitos diante de
suas exigências. Mesmo assim Deus não desiste de usar o homem. O povo de Israel foi um
modelo que pode pôde mostrar o que é o coração do homem, tanto social como politicamente, e como podem ser direcionadas as suas mazelas, quando os homens se afastam do Senhor.
A política de Israel durante os tempos do velho testamento, a qual
muitos até querem sacralizar, nos mostra que o rei tem que ter
um coração íntegro diante de Deus, e flexível para com Ele durante toda a sua vida. O povo também não
pode ser massa de manobra. Os religiosos que se manifestam a serviço dos reis devem ser experimentados
quanto às suas convicções e mesmo em conversões. Também, é importante interceder pelo rei e pela
nação. Naquele tempo a história espiritual ainda estava se construindo. Hoje
temos a Bíblia.